Um filho do Pelourinho, mergulhado no universo do tambor desde criança, Valdemiro Santos foi um dos fundadores do bloco Olodum e integrava a agremiação desde 1985. Ao longo da sua carreira no bloco, descobriu a fama e o sucesso, trabalhando junto a grandes artistas nacionais e internacionais e alcançando projeção e visibilidade em todo planeta. Por conta disso, se apresentou em todos os estados brasileiros, com exceção de Tocantins, e conheceu 22 países.

Apesar de ter a “vida de sonho” que todo artista almeja, havia um grande conflito no coração de Valdemiro. Certa vez, foi se apresentar com o Olodum em Nova York, e era feriado. Saiu na rua, queria conhecer a cidade e, de repente, ouviu uma voz desconhecida dentro de si que dizia “essa não é a sua realidade, você está aqui neste momento, mas vai voltar para Salvador e não vai mais fazer parte dessa banda”. “Eu não gostei do que havia ouvido”, declarou Valdemiro. “Só depois eu entendi que aquela era a voz do Espírito Santo na minha vida dizendo o que iria acontecer comigo”, explicou.

Em 2003, deixou tudo para trás e entregou a sua vida para Jesus. Naquele contexto em que a percussão não fazia parte do universo cristão, “colocou seu talento em uma mala e deixou lá guardado”. Passou a integrar o ministério de louvor da igreja do bairro em que morava e cantava sempre a mesma música, “Aos pés da cruz” de Kleber Lucas. Como era uma igreja de pequeno porte e tinha poucas atividades, ele ficava muito tempo sentado no banco. Mas estava insatisfeito. “Fiz uma oração e disse para Deus que, se isso era ser cristão, eu iria sair porque me incomodava muito”, comentou.

Mas o que Valdemiro não sabia era que Jesus estava gerando uma grande revolução na igreja de Salvador e ele iria fazer parte disso. Tinha alguns amigos moradores do Pelourinho que integravam a IBMI e passou a frequentar a igreja com eles.  Foi então que, em 2005, o Pastor Fernando, cantor e também ex-integrante do Olodum, iria promover um curso de percussão nessa igreja para evangelizar no carnaval de 2005. Naquela noite, foi apresentado ao Pastor Bira, era o início de uma parceria santa, arquitetada por Jesus. Nosso líder espiritual o convidou para ajudar no curso, mas como Pastor Fernando tinha uma agenda muito intensa de shows com a banda Tambores Ungidos, Valdemiro assumiu a liderança do curso.

“Eu nunca tinha sido professor de nada nem ensinado ninguém a tocar e não precisei aprender nada para ser maestro”, ressaltou Valdemiro. Sua experiência era com o fundo, o instrumento mais difícil de tocar na percussão, pois é aquele que dá a cadência para que todos os ritmos sejam construídos. “Creio que Deus preparou tudo dessa forma para que eu pudesse ser um vaso de honra na casa dele e eu espero estar honrando esse chamado de ser o construtor dessa ponte que leva o Evangelho para as pessoas perdidas”, ponderou.

 

 

O Ministério Sal da Terra

Através da realização dos cursos, a banda tomou forma e de lá para cá já foram 20 turmas concluídas. A composição da banda é feita por meio de quatro instrumentos que atuam de forma conjunta e complementar, são eles: o fundo, instrumento de frequência médio-grave, considerado o coração do grupo, responsável por fazer a cadência dos instrumentos; as marcações de dobra (dobradas), que fazem a marcação dos ritmos, acompanhando o som do fundo; a caixa, que traz o brilho dos ritmos; e o repique, que chama, faz a condução dos ritmos. Os instrumentos são fabricados artesanalmente em lojas especializadas de Salvador.

Ao longo do ano, o grupo integra diversos projetos de evangelismo realizadas pela IBMI ou por igrejas parceiras, sendo o Impacto de Carnaval e o bloco Sal da Terra o mais relevante deles. Além disso, participa de grandes eventos, como o Canta Bahia, no qual já se apresentou duas vezes.

No entanto, o trabalho vai muito além do que uma banda realiza. “Nós não somos banda, somos Ministério Sal da Terra e eu faço questão de mencionar isso sempre, onde quer que eu esteja”, frisou Valdemiro. Isso porque o grupo, debaixo da visão do Pr. Bira, tem uma atuação mais abrangente e desenvolve ações para além da música, na área espiritual e social.

O Ministério Sal da Terra é formado por pessoas comuns que integram a IBMI, que preza por princípios cristãos fundamentais. Entre eles, a valorização da família, a comunhão, o desenvolvimento social e econômico dos seus integrantes. Na convivência entre os membros, são realizadas atividades, como discipulado e suporte espiritual, integração social, incentivo aos estudos e construção de carreira profissional, além de cuidado e atenção realizados por integrantes do grupo.

Por causa da sua repercussão e importância, principalmente como estratégia de evangelismo, o Sal da Terra tem inspirado e ajudado na criação de outros grupos de percussão evangélicos, dando-lhes suporte e qualificação. É o caso da banda Atakaprakatá, da Bola de Neve em Salvador, grupo Elohim, na Argentina, Rugido do Leão, em Recife, Azuza, em Ilhéus e Déboras, em Santa Catarina.  

 

Os tambores e a Bíblia

“Nós somos o povo que mais se aproxima com o louvor de antigamente porque não existia teclado, guitarra, esses instrumentos amplificados. Foi assim que aconteceu com as muralhas de Jericó, por exemplo”, explicou o maestro. A utilização dos tambores é mencionada em várias passagens bíblicas, como a que se segue:

Então chegarás ao outeiro de Deus, onde está a guarnição dos filisteus; e há de ser que, entrando ali na cidade, encontrarás um grupo de profetas que descem do alto, e trazem diante de si saltérios, e tambores, e flautas, e harpas; e eles estarão profetizando. 1Sm10:5

Portanto, a utilização dos tambores, que durante muito tempo foi retirada do ambiente cristão, e inclusive, considerada como uma característica exclusiva de outras religiões, não conforma com o que Deus havia direcionado o seu povo desde o início. Essa visão está bem clara no entendimento do Ministério Sal da Terra. “Nós nos reconhecemos na Palavra de Deus, nós estávamos lá desde o princípio e não seria diferente hoje, quando o Senhor levanta os seus profetas, os seus tambores para fazer grande diferença nesse reino de que fazemos parte. Somos atalaias dessa geração tão corrompida, com tanta descredibilidade, muito distraída pela tecnologia”, declarou.

Nesse sentido, os integrantes do Ministério Sal da Terra são treinados e discipulados com a consciência de que são profetas e verdadeiros guerreiros espirituais, resgatando a essência da adoração e o apreço pela presença de Deus. “Não estamos, de maneira alguma, imitando o mundo, mas estamos trazendo a arca. Recuperamos e a trazemos de volta para trazer o Espírito do Senhor, promover o avivamento pelos tambores”, enfatizou.

O Ministério Sal da Terra no Carnaval do Pelourinho

É com essa visão de portadores da Presença de Deus e construtores de altares de adoração ao Rei dos Reis que os guerreiros da percussão participam do projeto Impacto de Carnaval, através do bloco Sal da Terra. “O Pelourinho é onde fui nascido e criado. Eu conheço aquele lugar espiritualmente. Quando estou ali, aquele lugar se transforma na minha região celestial”, ministrou Valdemiro.

O impacto espiritual na vida das pessoas só saberemos na eternidade, quando o Senhor nos mostrar as pessoas que receberam a salvação e foram resgatados das trevas para a luz.  “Os sons ultrapassam as barreiras físicas e entram numa esfera espiritual, e acontecem coisas que você nunca viu, como um Filho de Gandhy chorar e se entregar ao Senhor, as prostitutas e os drogados, aqueles que estavam separados voltarem para a sua família”, festejou o maestro.

O segredo de perseverar tantos anos no ministério? Valdemiro revelou. “Eu tenho 20 anos fazendo isso e nunca sei como fazer. Eu fui orar ao Senhor e Ele me disse que isso é dependência, que eu não tenho que saber como fazer. No dia que eu souber, vou terminar perdendo. Se eu deixar de aprender, vou perder até aquilo que já sei”, finalizou.

Siga o Ministério de Percussão Sal da Terra nas redes sociais: 

Instagram: @saldaterrabandaoficial

Youtube: @saldaterrabandaoficial

Confira mais fotos do bloco Sal da Terra na Galeria